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14/07/2020

AFINAL, QUAL É O MAL DO SÉCULO?

ultrarromantismo ou segunda geração romântica é um gênero literário que ficou conhecido por apresentar poemas (amorosos ou não) que retratavam a morbidez, o pessimismo e a atração pelos elementos obscuros e assombrosos que representam a morte. Com poemas regados de sofrimento e paixão, indagações, conflitos e autodestruição, o período que ocorreu no século XIX (entre 1850 e 1860) ficou conhecido como o Mal do Século.

O MAL DO SÉCULO NOS GAMES

  O "mal do século" pode também ser visto dentro da arte contemporânea, como em músicas, filmes e até mesmo jogos eletrônicos.

  O universo dos livros “The Witcher” (Wiedźmin), criado por Andrzej Sapkowski, é extremamente depressivo e mórbido, o que é perfeitamente retratado na série de jogos através de diversas histórias e conflitos em seu decorrer, inspirados pelos livros.

thewitcher.com | Home of the The Witcher games

Um ótimo exemplo de como essas historias podem se relacionar com o Mal do Século, é o arco do Barão Sanguinário (o Barão do Poleiro do Corvo, em Velen), que nos é apresentado durante a busca de Geralt (o protagonista dos livros e da série de jogos) por informações sobre Ciri, sua filha adotiva.

ANÁLISE E REFLEXÃO: "ESTÂNCIAS", DE FAGUNDES VARELA

 

Estâncias

(Fagundes Varela)

 

"O que eu adoro em ti não são teus olhos,
teus lindos olhos cheios de mistério,
por cujo brilho os homens deixariam
da terra inteira o mais soberbo império.

O que eu adoro em ti não são teus lábios,
onde perpétua juventude mora,
e encerram mais perfumes do que os vales
por entre as pompas festivais da aurora.

O que eu adoro em ti não é teu rosto
perante o qual o marmor descorara,
e ao contemplar a esplêndida harmonia
Fídias, o mestre, seu cinzel quebrara.

O que eu adoro em ti não é teu colo,
mais belo que o da esposa israelita,
torre de graças, encantado asilo,
aonde o gênio das paixões habita.

O que eu adoro em ti não são teus seios,
alvas pombinhas que dormindo gemem,
e do indiscreto vôo duma abelha
cheias de medo em seu abrigo tremem.

O que eu adoro em ti, ouve, é tu'alma,
pura como o sorrir de uma criança,
alheia ao mundo, alheia aos preconceitos,
rica de crenças, rica de esperança.

São as palavras de bondade infinda
que sabes murmurar aos que padecem,
os carinhos ingênuos de teus olhos
onde celestes gozos transparecem!...

Um não sei quê de grande, imaculado,
que faz-me estremecer quando tu falas,
e eleva-me o pensar além dos mundos
quando, abaixando as pálpebras, te calas.

E por isso em meus sonhos sempre vi-te
entre nuvens de incenso em aras santas,

e das turbas solícitas no meio
também contrito hei-te beijado as plantas.

E como és linda assim! Chamas divinas
cercam-te as faces plácidas e belas,
um longo manto pende-te dos ombros
salpicado de nítidas estrelas!

Na doida pira de um amor terrestre
pensei sagrar-te o coração demente...
Mas ao mirar-te deslumbrou-me o raio...
tinhas nos olhos o perdão somente!".


Análise-crítica:

Nesse poema Fagundes consegue descrever quão bela é a mulher externamente e internamente, isso significa que ele a valoriza por tudo que ela é, e ele a ama não só carnalmente, mas também sentimentalmente, podemos perceber também que ele provavelmente deve ter passado um tempo considerável com a mesma, pois de que outra forma ele conseguiria descrevê-la de tal modo.

É perceptível a diferença de tratamentos no relacionamento do poema e os de hoje, visto que ele mostra que a conhece por meio deste descrevendo a sua beleza e seu jeito de ser. Hoje em dia se o seu novo parceiro souber o seu nome, você já vai sair ganhando, porque ultimamente as pessoas são salvas no contato do celular como: “Contatinho número tal” ou “Esquema número tal” e sim isso é mais comum do que deveria ser.

ANÁLISE: A SEGUNDA GERAÇÃO ROMÂNTICA NA CONTEMPORANEIDADE

Quando falamos de ultrarromantismo, o primeiro pensamento que nos vem à cabeça é: por que tão mórbido? O que poderia estar passando na cabeça de tantos escritores para ter como inspiração a morte?

Nessa segunda geração romântica, nos deparamos com um amor irracional e um exagero emocional em personagens muito jovens, que se encontram em uma dor tão profunda e intensa, que preferem a morte ao sofrimento. De acordo com o que podemos analisar nas obras da época, os jovens viviam em um constante conflito com a sociedade. Incapazes de se ajustar aos padrões impostos, eles se tornavam uma espécie de “desajustados” aos olhos das outras pessoas. Isso nos lembra dos dias atuais, onde temos tantos relatos com muitos dos sentimentos transcritos nos livros, não? Isso porque o mal do século, tão conhecido nesse gênero, é a depressão. Conhecida dessa maneira porque ainda é incompreendida, mesmo por quem sofre com ela. E atualmente, a doença atinge cerca de 10% das pessoas no mundo.

13/07/2020

ANÁLISE: “LEMBRANÇA DE MORRER", DE ÁLVARES DE AZEVEDO


Lembrança de morrer

(Álvares de Azevedo)



Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
— Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh'alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade — é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos — bem poucos — e que não zombavam
Quando, em noite de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo....
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nelas
— Foi poeta — sonhou — e amou na vida.—

Sombras do vale, noites da montanha
Que minh'alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d'aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua prantear-me a lousa!




Análise interpretativa:
"Lembrança de morrer" é um poema que desde seu título já expressa um dos principais aspectos da segunda geração romântica: o apego a morte. Ao longo do texto, veremos o tempo todo traços do individualismo típico do período, assim como a idealização da mulher amada e a paixão pela vida boêmia, acompanhados de um sutil niilismo, visto principalmente nas primeiras estrofes.

ANÁLISE: “O NOIVADO DO SEPULCRO”, DE SOARES DE PASSOS


“O Noivado do Sepulcro”

(Soares de Passos)

Balada


Vai alta a lua! na mansão da morte
Já meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte
Só tem descanso quem ali baixou.

Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longe
Funérea campa com fragor rangeu;
Branco fantasma semelhante a um monge,
D'entre os sepulcros a cabeça ergueu.

Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celeste
Campeia a lua com sinistra luz;
O vento geme no feral cipreste,
O mocho pia na mármore cruz.

Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espanto
Olhou em roda... não achou ninguém...
Por entre as campas, arrastando o manto,
Com lentos passos caminhou além.

Chegando perto duma cruz alçada,
Que entre ciprestes alvejava ao fim,
Parou, sentou-se e com a voz magoada
Os ecos tristes acordou assim:
"Mulher formosa, que adorei na vida,
E que na tumba não cessei d'amar,
Por que atraiçoas, desleal, mentida,
O amor eterno que te ouvi jurar?

Amor! engano que na campa finda,
Que a morte despe da ilusão falaz:
Quem d'entre os vivos se lembrara ainda
Do pobre morto que na terra jaz?

Abandonado neste chão repousa
Há já três dias, e não vens aqui...
Ai, quão pesada me tem sido a lousa
Sobre este peito que bateu por ti!

Ai, quão pesada me tem sido!" e em meio,
A fronte exausta lhe pendeu na mão,
E entre soluços arrancou do seio
Fundo suspiro de cruel paixão.

"Talvez que rindo dos protestos nossos,
"Gozes com outro d'infernal prazer;
"E o olvido cobrirá meus ossos
"Na fria terra sem vingança ter!"

– "Oh nunca, nunca!" de saudade infinda,
Responde um eco suspirando além...
– "Oh nunca, nunca!" repetiu ainda
Formosa virgem que em seus braços tem.

Cobrem-lhe as formas divinas, airosas,
Longas roupagens de nevada cor;
Singela c'roa de virgínias rosas
Lhe cerca a fronte dum mortal palor.

"Não, não perdeste meu amor jurado:
Vês este peito? reina a morte aqui...
É já sem forças, ai de mim, gelado,
Mas inda pulsa com amor por ti.

Feliz que pude acompanhar-te ao fundo
Da sepultura, sucumbindo à dor:
Deixei a vida... que importava o mundo,
O mundo em trevas sem a luz do amor?

Saudosa ao longe vês no céu a lua?"
– "Oh vejo sim... recordação fatal!
– "Foi à luz dela que jurei ser tua
"Durante a vida, e na mansão final.

Oh vem! se nunca te cingi ao peito,
Hoje o sepulcro nos reúne enfim...
Quero o repouso de teu frio leito,
Quero-te unido para sempre a mim!

E ao som dos pios do cantor funéreo,
E à luz da lua de sinistro alvor,
Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério
Foi celebrado, d'infeliz amor.

Quando risonho despontava o dia,
Já desse drama nada havia então,
Mais que uma tumba funeral vazia,
Quebrada a lousa por ignota mão.

Porém mais tarde, quando foi volvido
Das sepulturas o gelado pó,
Dois esqueletos, um ao outro unido,
Foram achados num sepulcro só.

Análise interpretativa:

O poema mais célebre de Soares de Passos, “O Noivado do Sepulcro” (obra publicada no ano de 1856 com o título “Poesias”), exemplifica a psicologia do Ultrarromanstismo, onde as principais características dessa geração encontram-se na obra.

 O amor e a mulher amada, idealizados, acima de todas as convenções sociais (­─ e até mesmo, “espirituais”); ambientes fúnebres, sombrios; e personagem pessimista. Todas esses temas descrevem resumidamente, esse enredo sobre um amor que supera a morte e fez um casal de esqueletos/fantasmas se unirem pelos laços da eternidade.

11/07/2020

“MAL DO SÉCULO”: A SEGUNDA GERAÇÃO ROMÂNTICA

Tavern Scene, de David Teniers. 1658.

segunda geração romântica, denominada “Ultrarromântica” ou a Geração “Mal do Século”, assim como o Romantismo, foi um movimento literário correspondende no Brasil entre as décadas de 1850 e 1860.